Nesta época do ano muitos futuros estudantes universitários estão a pensar no caminho a seguir. As perguntas sobre as saídas profissionais e o salário são as mais insistentes nos bate-papos da internet. Os foros estão cheios de pessoas que têm as verdades todas definidas, pessoas que afirmam sem hesitar "esta opção é claramente com a que mais dinheiro ganha".
Hoje, dez anos depois da minha escolha no meio da crise económica de começos dos 90, vejo surgirem candidatos a profissionais, nomeadamente futuros engenheiros, e percebo com alguma tristeza que nesta fase precoce das vidas profissionais frequentemente as preocupações pelo ordenado, pelo cenário empresarial e pela estabilidade são maiores que o gosto pelo ciência aplicada e a tecnologia.
Afortunadamente a vida está repleta de fantásticos equívocos e segundas oportunidades. Assim Rowan Atkinson (Mr Bean) deixou a engenharia elétrica para ser actor, o arquitecto Le Corbusier fez de relojeiro, o romancista Italo Calvino formou-se inicialmente em engenharia agrícola, o multifacetado Castelao estudou medicina por amor ao seu pai e deixou-na por amor à Humanidade, o matemático Leibnitz trabalhava como advogado, Júlio Verne também ia para advogado mas era apaixonado pela ciência-ficção, Wittgestein deixou a engenharia aeronáutica para filosofar, etc...
Recordem também que o homem viveu basicamente da caça durante quinhentas mil gerações e que só é agricultor há trezentas. Entender a evoluição das profissões olhando para as últimas décadas é muito pouco para formar verdades e predezir o mercado laboral nos próximos 35 anos com base nas ofertas de emprego dos últimos anos é simples adivinhação. Pelo menos estudem aquilo do que gostam.