Na formação dos engenheiros civis angolanos tem havido uma lacuna no que respeita à parte ambiental. Não tem sido dado realce na formação dos engenheiros civis à parte do ambiente. Faz falta a figura de engenheiro do ambiente.
Apesar de haver mais de uma dezena de gabinetes que se dedicam ao projecto de obras de engenharia civil, não são suficientemente especializados para responder às exigências técnicas de alguns projectos.
Não tem havido muita colaboração entre estes e as universidades. Não tem sido aproveitado o know-how e a capacidade de investigação aplicada das universidades.
A formação dos engenheiros civis normalmente foi, até ao momento, feita pelo estado, por ser muito cara, quer por financiamento directo quer integrada nos orçamentos de projectos.
No caso de se tratar de empresas privadas a questão complica-se embora haja empresas com capacidade para dar formação aos seus engenheiros. Não tem havido apoios às empresas privadas para darem formação, o que torna mais difícil à opção das empresas na aposta da formação.
Ao nível do estado tem havido alguns apoios nos centros de formação, muitos virados para certas especialidades, o que é notoriamente insuficiente. Até ao presente a formação era feita quase exclusivamente nas universidades públicas, pois as privadas não têm tido capacidade financeira para fazer face aos custos dos equipamentos de apoio à formação. Convénios que havia entre as empresas e as universidades deixaram de funcionar pelo que a formação tornou-se mais difícil de levar a cabo.
Os cursos de engenharia praticamente deixaram de funcionar durante um período largo e os engenheiros angolanos têm procurado o Brasil para fazer a sua formação académica. Isso trouxe problemas nomeadamente o facto de se desinserirem do mundo real angolano. Além disso, ou por causa disso, muitos ficavam-se pela docência não chegando a entrar no mundo do trabalho industrial. Pode mesmo dizer-se que a engenharia regrediu, não se têm feito coisas novas, o estado já tem um grau de exigência menor e tem que se convencer de que a reconstrução efectiva só pode ser feita com engenheiros.
No que respeita à adaptação curricular dos cursos ministrados nas universidades angolanas já há uma certa estabilização embora se imponha uma revisão curricular em breve prazo para acompanhar a evolução tecnológica nesta área.
As águas e a energia constituem problemas principalmente ao nível de quadros intermédios que praticamente deixaram de existir com a extinção dos cursos médios de tendência profissional.
Fonte: A Engenharia e o Engenheiro em Angola (2008). José Dias. Bastonário da Ordem dos Engenheiros de Angola. Professor da Universidade Agostinho Neto de Luanda.
Foto: Planta de Gás Natural Liquefeito construida pela China Harbour Engineering Co. Ltd. para a Angola LNG