12 de ago. de 2009

Feijóo ao JN: Desejaria ter um homólogo no Norte de Portugal.

Quando o desemprego começou a subir, na Galiza, houve protestos contra a presença de portugueses. A cooperação entre as regiões é um discurso político ou é desejada pelos habitantes da Galiza?

A vontade política é a expressão da vontade popular. Os políticos podem criar cenários, como fizemos em 1991, quando criámos a Comunidade de Trabalho Norte de Portugal/Galiza. Agora as relações entre as duas populações já se fazem com normalidade. A euroregião começou de cima para baixo, em termos políticos. Agora creio que se impulsiona de baixo para cima.

A Galiza vai fazer um grande investimento em ferrovia. Os portugueses serão bem-vindos ao projecto?

Sem dúvida. Temos um acordo com o Governo Central para investir 4700 milhões de euros até 2015. Apesar da recessão e da subida do desemprego, provavelmente precisaremos dos trabalhadores portugueses, porque são bons, eficientes e conhecem o funcionamento da construção e obra pública.

Quando é que o comboio de velocidade alta chegará à fronteira?

Partilhamos a data de 2013 com Portugal. Já fechámos em 2012 a data definitiva em que estará operacional na Galiza, mas a ligação a Portugal não poderá ser feita em 2012. Há que pressionar o Governo de Espanha para que o seja em 2013. Se não aumentarmos o ritmo, podemos chegar tarde.

Em Portugal tem sido discutida a oportunidade da sua construção. Receia que o Governo saído das eleições congele o projecto?

Não. É certo que há políticos cautelosos, estamos num cenário económico muito complicado, mas não significa que fiquem sem efeito projectos-chave estruturantes. Estou convencido que, governe quem governe, o comboio de alta velocidade entre Porto e Vigo é bom para Portugal e para Espanha.

Como presidente da Galiza, admite pressionar o próximo Governo para que a obra se faça em 2013?

Sem dúvida. Seis milhões de pessoas querem que o comboio seja feito. Toda a Galiza poderá descer ao Porto em menos de 1.30 horas. Acredito que melhorará a competitividade do território, as relações comerciais, empresariais.

O facto de o Norte não ter a autonomia de decisão da Galiza dificulta o aprofundamento das relações entre as duas regiões?

Desde 1991, temos tido muita experiência em como implementar instituições para colaborar com o Governo, as autoridades locais, municipais: o Eixo Atlântico, o Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial (que, em Novembro, deverá ter um calendário de actuação) e a Comunidade de Trabalho.

Mas não tem um interlocutor português, com capacidade de decisão.

As relações, entre o ano de 2005 e agora, aligeiraram-se. A Comunidade de Trabalho só reuniu duas vezes, não é um bom balanço. O novo Governo da Galiza vai dar prioridade à euroregião. É certo que ter um homólogo com as mesmas características poderia trazer mais facilidade, mas as estruturas nacionais são o que são e temos que suprir isso com cooperação e com outros organismos.

Admite também pressionar o Governo português para ter um interlocutor único no Norte?

Não me quero intrometer na soberania portuguesa. Creio que seria bom dar mais potencialidade às regiões, sem perder a coordenação de Estado. Descentralizar e aproximar os serviços públicos dos cidadão não é mau, é uma boa decisão. Mas insisto que vou trabalhar com os instrumentos que Portugal que coloque à disposição.

A Galiza já não é a região pobre que era há duas décadas, enquanto que o Norte tem marcado passo. Se tivesse um modelo de autonomia, crê que se teria desenvolvido como a Galiza?

As autonomias têm um balanço positivo. Temos alguns problemas de coordenação, de dispersão das decisões, mas o balanço é positivo. Creio que qualquer país que experimente uma descentralização controlada pode ter mais vantagens do que inconvenientes.

Há acordos regionais para a moda, o mar e o automóvel. A forma como são postos em prática é eficaz?

Temos que passar das palavras aos actos, envolver muito mais a sociedade civil, sentar os agentes económicos, as pequenas e médias empresas para concretizar as ideias, que são boas no papel. A segunda geração de cooperação tem que pôr em prática as vantagens competitivas da euroregião.

Encontra outras áreas em que uma maior aproximação fosse útil?

A estratégia deve passar pelos sectores produtivos. Temos o mar e os produtos congelados, o automóvel, o têxtil, a pedra e granito, a logística. O porto de Leixões tem que ter uma relação mais directa com as plataformas portuárias de Vigo e da Corunha, onde estamos a fazer o maior porto da fachada atlântica europeia. Temos também a indústria audiovisual e das tecnologias da comunicação.

O aeroporto de Sá Carneiro quer ser o maior da euroregião, temos infra-estruturas a competir directamente com as galegas. Há colaboração ou competição?

A concorrência é fundamental. Colaborar não significa não competir, mas dar valor ao que cada um consegue fazer. Eu incentivo a concorrência interna, sem ela somos mais pobres.

Em termos de relação com a região Norte, o que o diferencia do seu antecessor, Emilio Pérez Touriño?

Veremos no final do mandato (risos). Mas a minha primeira visita foi à euroregião. Nos últimos quatro anos, a Comunidade de Trabalho reuniu duas vezes. Connosco, nos primeiros 70 dias, já reuniu uma. Portanto, creio que vamos bem. Também temos que pôr a funcionar o Agrupamento de Cooperação antes do Natal, com um director português, um adjunto galego e em Vigo. E que preparar o período 2014 a 2020, a Comissão de Cultura e Universidades e a Comissão da Juventude, a eurocidade Verín/Chaves... Sou um firme defensor desta euroregião.

Fonte: http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=1301429
Fotografia: EFE; Alberto N. Feijóo e Carlos Lage, presidente da Comunidade de Trabalho Galiza - Norte de Portugal, no Porto.

4 comentarios:

  1. Sabia decisión lusa de prescindir de las costosísimas y disparatadas "autonomías".......

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  2. O certo é que, botando un ollo ao Eurostat, no último cuarto de século só catro rexións portuguesas creceron significativamente: Azores e Madeira -que son rexións autónomas - Lisboa, a capital, e Algarve e esta última por causa do desenvolvemento do turismo e con cifras moi inferiores ás outras tres. Creo que isto di todo sobre as vantaxes da descentralización e de deixar de pasar todos os proxectos pola lenta burocracia de Lisboa.

    Que o Norte tivese certa autonomía de decisión, sen dúbida, sería tamén moi positivo para o desenvolvemento de proxectos no Eixo Atlántico como o TGV Vigo-Porto ou a eurocidade Chaves-Verín.

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  3. ¿Qué significa "chegar tarde"? ¿Vai pasar algo terrible se o TAV se fai en 2015 ou 2018? ¿Qué imos perder? Estou farto dese discurso mesiánico das infraestruturas que usan os nosos políticos. ¿Por qué non se fala de un transporte ferroviario de mercadorías no eixo atlántico, que sí sería un verdadeiro adianto económico para a rexión?

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  4. A autoestrada Celanova-Fronteira que era prioritaria está parada así que vistos os precedentes e sendo moi optimistas o TAV Vigo-Porto chegaría como moi cedo en 2015. Puxar polo 2013 non deixa de ser un wishful thinking de Feijóo que non cre nin o se conselleiro de OP.

    A maneira de rendibilizar o TGV certamente aínda non está clara e o TGV non nons vai sacar de pobres pero é moi bo ter o proxecto comunitario en mente, mesmo aínda que non se constrúa en breve, e xerar espírito cooperativo da eurorrexión.

    Din que o tránsito de persoas-servizos favorece ao Sul da Galiza mentres que o de mercadorías-industrial favorece ao Norte de Portugal pero é mellor pensar a longo prazo. O mais probábel é que ao final esteamos a ver unha vía mixta (persoas-mercadorías) cunha derivación á plataforma loxística de Salvaterra-As Neves.

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